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40 XXIII — Brasil— E. S. Paulo— Matao, 15 de Novembro de 1947 — N. 10
REVISTA MENSAL DE ESTUDOS ANlMICOS E ESPÍRITAS
■ - . .
FUNDADOR :
CA1RBAR SCHUTEL
SUMÁRIO
iLSEMINARY
Em torno da Morte . .
A Vidente de Prevorst .
A Obra de Geley .
■ - - w '7
Onde Ides, Mocidade Louca do Bra¬
sil ? . .
Os Sinais dos Tempos .
Mesas e Cabeças Girantes ....
Fenômenos de Materialização . . .
Vidas Sucessivas .
Livros e Autorès .
Crônica Estrangeira .
i
Espiritismo no Brasil .
Recfação
Dr. Francisco K/õrs Werneck
Ismael Gomes Braga
\
Leopoldo Machado
J. B. Chagas
Carlos Imbassahy
Amadeu Santos
Djalma Farias
Leopoldo Machado
Redação
Redação
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«
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.
»
4 Natal dos Pobres fc.
Prezado Sr.
Paz em Jesus.
Como de costume, o Centro Espírita «Aman¬
tes da Pobreza» realizará neste ano o NATAL DOS
POBRES, no dia em que se comemora a maior data
do Cristianismo, 25 de Dezembro, que relembra o nas¬
cimento de Jesus.
A cristandade prepara-se para festejar nesse
dia o magno acontecimento, sem medir gastos. Mas os
pobres que muitas vezes não têm uma côdea de pão
e uma xicara de café, não o podem fazer ; daí porque
devemos lhes prestar o nosso auxílio fraternal, para
que todos indistintamente tenham, de facto, um NA¬
TAL FELIZ. E cumprindo o maior mandamento, que
é o amor ao próximo, Jesus, que acompanha sempre
os nossos passos e mede as nossas ações, nos recom¬
pensará com o nos proporcionar paz, saúde, alegria e
prosperidades.
Nesse sentido, a Comissão abaixo assinada,
vem solicitar do coração magnânimo de Y. S., um óbu-
lo, que póde ser em dinheiro, gêneros alimentícios, rou¬
pas, mesmo usadas, etc.
Certos de sua preciosa atenção, almejamos-lhe
um Natal Feliz e um Ano Novo cheio de prosperidades.
Matão, 10 de Outubro de 1947.
A Comissão :
D. Chiquita Fonseca
D. Maria Casanova
D. Antcninha Perche Campeio
D. Elvira Prado
Zelia S. Perche
Jenny Perche
Valéria Dias de Lima
Clotilde Ferreira
Jocelina Dias de Lima
Leonor Cruz
Isabel Perche
Doris Molinari
Carmen Torres
Miriam Perche
Cleide Perche
Manoela Torres
Edméa Costa
Edna Gonçalves
Catarina Bonfoqui
©}(S
S)fâ)
ANO XXIII — E. S. Paulo — Matáo, 15 do Novembro do 1947 — NUM. 10
Renúta Internacional
do Espiritismo
REVISTA MENSAL DE ESTUDOS ANÍMICOS E ESPÍRITAS
fundador : Cairbar Schutel
DIRETOR : José da Costa Filho X- REDATOR : A, Watson Campeio
GERENTE : Anlonia Perche S. Campeio
Redação: Av. 28 do Agosto, n. 301 Oficinas: Rua Rui Barbosa, n. 673
&(9
G)vS)
EM TOENO DA MOETE
«PESAR de ser a maioria
k dos homens materialista
ou ateista, não crendo em
£4 Deus e nem na sobrevi-
vencia individual, não acre-
ditamos que eles, em cer¬
tos momentos da vida,
não tenham pensado, embora ligeiramen¬
te, sôbre a morte, êsse espantalho pinta¬
do pela ignorância humana.
A morte é a cousa mais certa dês-
te mundo, pois todos sabemos que mais
hoje ou mais amanhã temos que empre¬
ender essa irrevogável viágem. Para os
incientes, ou seja, para aqueles que limi¬
taram as suas esperanças ao restrito pla¬
no terreno, morrer significa o aniquila¬
mento, o desaparecimento, enfim, a ex¬
tinção total do indivíduo, porque estão
convencidos de que o indivíduo é somen¬
te corpo, e nada mais. Para os espiritua¬
listas morrer quer dizer — renascer na ver¬
dadeira vida, porisso é que um grande
filósofo afirmou que a morte é a porta da
vida.
O desespero, as lágrimas copiosas,
as imprecações da creatura que vê mor¬
rer um ente querido são frutos da des¬
crença, da falta de fé nos desígnios de
Deus, da falta de conhecimentos relativos
às cousas do espírito antes e depois da
sua passagem para o mundo espiritual.
As creaturas que acreditam na sobrevi¬
vência individual sabem que os seus mor¬
tos queridos continuam a viver e que as
esperam para o grande festim espiritual ;
que as acompanham e lhes prestam todo
o auxílio possível, guiando-as da melhor
maneira nas suas indecisões, estimulando-
as ao trabalho e amparando-as nas suas
fraquezas.
As religiões mundanas, com os seus
dogmas, sacramentos, cultos externos e
missas a granel não conseguem confortar
aqueles que vêem passar para o mundo
dos espíritos os seus entes e amigos, pois
as lágrimas continuam a correr-lhes pelas
faces e a esperança se detera ante o ter¬
rível enigma que é a morte:
Mas, com o advento da doutrina es¬
pírita, o véu que encobria a Verdade
rasgou-se de cima a baixo e todos podem
ver agora os esplendorosos horizontes da
vida eterna, com os testemunhos frisantes,
insofismáveis da sobrevivência individual
acendendo em cada coração a lâmpada
da verdadeira fé e da esperança que não
fenece e colocando em cada cérebro a
bússola da sabedoria que orienta com se¬
gurança na intérmina caminhada para a
Perfeição.
Passamos a transcrever de «Estudos
Psíquicos*, de Lisboa, o seguinte caso
comprobativo da imortalidade da alma,
para que os descrentes encontrem no
mesmo ao menos uma fagulha que lhes
chame a atenção para as cousas relativas
ao espírito.
- 228
Revista Internacional do Espiritismo
Uma Prova da Sobrevivência
O Psychic News de 9 de Outubro
de 1943 publicou interessante relato acer¬
ca de provas da sobrevivência fornecidas
pelo médium F. W. Martin, pai de um
piloto da R. A. F. que falecera no de¬
sastre de um avião «Sunderland», quan¬
do êste aparelho em 1941 tentava atra¬
vessar o oceano.
Martin vive em Morton, próximo de
Swansea, e obteve no Instituto de Inves¬
tigações Psíquicas de Londres o que ele
apelida de prova assombrosa. No dia an¬
terior tinha estado junto do médium de¬
senhador Frank Leah, a quem nos temos
referido muitas vezes, e observou que êste
último desenhara um retrato do aviador
«morto», cujo perfil era perfeitamente
exáto, tanto na forma, como na dimensão.
Desde então, Martin tem recebido
numerosas provas de sobrevivência do fi¬
lho, que se comunica regularmente.
Segue-se o relato da prova dada pe¬
lo jovem aviador Jack, que utiliza o calão
empregado na R. A. F. e demonstra o
orgulho próprio de um jovem, quando se
manifesta :
— Após a queda do avião, achei-me
na água muito sujo e cheio de dores, por¬
que fôra queimado pela gasolina, que se
incendiára, na altura em que os tanques
foram atingidos. Só senti as dores, ao
verificar que não podia nadar. O pai sa¬
be que eu era bom nadador. Se lhe ti¬
vesse sucedido o mesmo, n|ío faria mais
do que eu.
«Quando mergulhei, senti os pul¬
mões a arder e perdi os sentidos. Ao des¬
pertar, vi meu avô ao pé de mim.
«Eu não compreendo isto — pensei
comigo mesmo. — Afinal, estou morto ou
não ?> O avô, porém, estendeu-me as
mãos e disse :
— «Jackie, estou aqui para te con¬
duzir à tua nova vida, porque tu não
morreste. Bem ao contrário, estás mais
vivo do que nunca. Não te lamentes. Ago¬
ra estás deste lado da vida. Por-te-ei ao
facto de tudo isto. Lembras-te do avô,
que te levava a passear, quando eras pe¬
quenino ?
— «Certamente, — respondi — ; mas
como se explica o facto de o estar a ver
de novo ? Afinal, não estou morto. Onde
estou então? Afoguei-me há minutos na
desastrosa queda do «Sunderland». Não
posso estar vivo. Que diz a isto, avô ?
— «Estás vivo, de facto. Depois te
explicarei isso. Agora temos de sair deste
ambiente, demasiado terrestre para ti.
«Em seguida, olhei para o meu cor¬
po físico que se encontrava debaixo de
água, e pude vê-lo como se estivesse à
superfície.
«Partimos daquêle local e começá¬
mos a flutuar no espaço. Por fim, chegá¬
mos a um lugar semelhante a um salão
de concertos, que depois notei ser o Sa¬
lão de Repouso, que nos acolhe, quando
desencarnamos. Ao chegar ali, o avô man¬
dou-me estender num divã; e passado al¬
gum tempo acercou-se de mim um ho¬
mem parecido com um monge, chamado
Irmão Goodwin, dizendo que era um «guia».
«Não compreendi o significado do
termo «guia». Entretanto, foi-me dizendo
que eu também seria guia, isto é, que
deveria ajudar a esclarecer outros espíri¬
tos nas condições em que o avô me en¬
controu, no intuito de os familiarizar com
o mundo espiritual. Assim, devia pôr-me
em comunicação com o pai, escrevendo e
informando-o acerca desta vida.
«Não compreendi de que diabo es¬
tava êle a falar. Contudo, comecei a mer¬
gulhar em sono profundo, até que acor¬
dei num grande salão ou templo, cheio
de luz estranha, de cores maravilhosas,
em nada semelhantes às cores terrestres e
que mudavam de cambiante a todo mo¬
mento.
«Observei até enorme multidão de
homens, mulheres e crianças, de todas as
raças. E quando me estendi numa espé¬
cie de canapé, ouvi música de centenas
de instrumentos, diferente da que tinha
ouvido na terra. As vozes da multidão
elevavam-se em côro, enquanto as cores
variavam constantemente o seu brilho.
«Era, de facto, uma cena inesque¬
cível. O ar era vivo, isto é, impregnado
de fluído vital que penetrava suavemente
o meu corpo espiritual ; e comecei a sen¬
tir a consciência do meu novo estado.
Parecia reviver. Daqui em diante tornou-
se-me desnecessário perguntar o motivo
daquela cerimônia.
«Fiquei sem saber o que havia de
fazer, quando toda aquela gente se levan¬
tou, sendo então levado pelos médicos
para outro edifício.
«Ao abandonar o salão de Repou¬
so, entrei numa bela casa cercada de flo¬
res e arbustos, diferentes de tudo quanto
vira.
/
Revista Internacional do Espiritismo
— 229 —
«O edifício a que me refiro era
construído de alabastro e pedra, de cores
variegadas. Ali se reuniam muitos estu¬
dantes da R. A. F., trabalhando em vá¬
rias coisas.
«Fui colocado na secção de enge¬
nharia, pois quando estive na terra dedi¬
quei-me a esse mister. Aqui, continuei a
lidar com máquinas de toda a espécie.
«Talvez esta história lhe pareça
idiota, mas não é. A’ excepção dos indi¬
víduos, esta vida é semelhante à vida ter¬
rena. Claro que não dormimos, visto ser
desnecessário ; mas podemos descançar,
se tal nos aprouver. Estendemo-nos em
fofos leitos de erva, para recuperar ener¬
gias. Nesta mansão, a vida resume-se em
amar todos os nossos semelhantes»,
F) Uiòente òe Preuorst
PRIMEIRA PARTE
A Vida e as Faculdades da Vidente
CAPÍTULO X I
Visão pela cavidade epigástríca
Os fenômenos seguintes lem¬
bram a faculdade que têm os sonâm¬
bulos de lêr o que se coloca sôbre o
seu estômago ou de tomar conheci¬
mento dele só pelo tato. Dei à Sra.
Hduffe dois pedaços de papel, cuida¬
dosamente dobrados. Num havia es¬
crito em segredo: «Deus existe» e no
outro «Deus não existe». Coloquei- os
em sua mão esquerda, , quando intei¬
ramente desperta e perguntei lhe se
notava alguma diferença entre eles.
Após certo tempo, entregou- me o pri¬
meiro deles, dizendo-me : «Este me
produziu certa sensação ; o outro me
deu uma impressão de vácuo». Re¬
peti quatro vezes a experiência e ca¬
da vez com o mesmo resultado. '
Escrevi então num pedaço de
papel: «Há espectros* e no outro
«Não há espectros». Ela colocou o
primeiro sôbre a cavidade epigástri-
ca, segurou o outro numa das mãos
e leu o que estava escrito em am¬
bos. Escrevi então «Vistes B.». Quan¬
do ela o colocou no mesmo lugar,
disse que isso lhe causava aborreci¬
mento. Quando mais tarde leu o con¬
teúdo do papel, não poude compre¬
ender tal efeito, embora tivesse sido
renovada a experiência, com o mes¬
mo resultado.
Alguns anos depois, quando co¬
loquei em sua mão uma carta fecha¬
da, da referida pessoa, o resuliado
Pelo Dr. Justino Kerner
Tradutor: T)r. Francisco Klòrs Werneck
foi ainda o mesmo, sem que ela ti¬
vesse a menor idéia do que pudesse
isso ser. A presença dessa pessoa
produzia efeitos idênticos. Certo nú¬
mero de experiências interessantes,
feitas no mesmo sentido, me deu a
convicção de que os escritos e os de¬
senhos colocados na cavidade do seu
estômago produziam efeitos apreciá¬
veis, variando em sua natureza..
Boas notícias de seu filho fa¬
ziam-na sorrir, ao passo que más a
entristeciam. O nome de uma pessoa
não amiga despertava cólera nela; o
de Napoleão Bonaparte sugeria idéias
marciais e ela cantava u’a marcha.
Algo estranhos que sejam tais
resultados, experiências repetidas só
serviram para confirmá-los, e, ainda
que seja dificil crêr-se neles, são, to¬
davia, fatos positivos.
Como acontece comurnente com
os sonâmbulos, tinha a Sra. Hauffe a
faculdade de distinguir nitidamente os
orgãos internos do corpo, sobretudo
quando estavam doentes. Via perfei¬
tamente a direção dos nervos e po¬
dia descrevê-los anatomicamente.
Uma varinha magnética, com
uma ponta de ferro, colocada dianle
de sua vista direita e dirigida para
um objeto afastado, desenvolvia seu
poder de modo extraordinário ; assim
as menores eslrêlas lhe pareciam tão
grandes quanto a lua e a lua pare¬
cia tão grande que ela podia vêr cla¬
ramente suas manchas. Ela, porém,
nunca poude vêr senão do lado di-
— 230
Revista Internacional do Espiritismo
reito, pois o esquerdo ficava invisí¬
vel. Ela dizia que os habitantes do
lado esquerdo da lua estavam todos
absortos em suas construções e não
eram tão felizes como os do lado di¬
reito. Eu lhe disse que pensava que
isso não passasse de um sonho, po¬
rém ela protestava, acrescentando
que o seu estado sonambúlico era
um estado de vigilia perfeita. E’ de
se lamentar que tais experiências te¬
nham sido feitas numa época em que
a vidente era incapaz de deixar seu
leito e não podia entregar se a uma
observação mais prolongada dos cor¬
pos celestes.
Quando ela encontrava uma pes¬
soa que havia perdido um membro,
continuava a vêr o membro ainda li¬
gado ao corpo, isto é, continuava a
divisar a fôrma do membro, produzi¬
da pela projeção do fluido nervoso,
do mesmo modo que via as fôrmas
fluídicas dos mortos.
Êsse interessante fenômeno per¬
mite-nos explicar as sensações expe¬
rimentadas pelas pessoas que sentem
ainda o membro que foi amputado.
A invisível fôrma fluídica do membro
ainda está em relação de continuida¬
de com o corpo vjsivel e isso nos
prova bastamente que depois da des¬
truição do envoltório visivel, a forma
é conservada pelo fluido nervoso. O
velho teósofo Oettinger já dissera : «O
envoltório terrestre fica no túmulo, ao
passo que a parte essencial e volátil
sobe como um espírito de forma per¬
feita, mas privado de matéria».
À seguir, Cap. XII — O espírito
protetor.
A OBRA DE GELEY
— ui —
Ismael G. Braga
A individualidade psicológica,
na ciência clássica materialista, de¬
pende do paralelismo psico-fisiológi-
co : cada região do cérebro corres¬
ponde a uma faculdade, e, uma vez
prejudicada aquela região do cére¬
bro, cessa a faculdade; por exemplo,
uma região rege a linguagem e, se
for destruída, o homem perde a fala.
Essas convicções duraram muito tem
po, mas numerosas observações re¬
centes vieram arruiná-las.
Foram realizadas amputações
parciais do cérebro sem a corres¬
pondente alteração psíquica : cére¬
bros inteiramente destruídos por um
tumor não prejudicaram as faculda¬
des psíquicas do enfermo. Estas ob¬
servações, feitas por médicos ilustres
de diversos países, lançaram por ter¬
ra o paralelismo psico- fisiológico e
demonstraram que a ciência materia¬
lista não pode explicar satisfatoria¬
mente a individualidade psicológica.
E’ necessário recorrer à existência de
um dínamo-psiquismo independente
do cérebro, ou seja, em nossa lin¬
guagem espírita, à existência de um
Espírito que pode pensar indepen¬
dentemente do cérebro.
Depois de demonstrar exaustiva¬
mente essa incapacidade da ciência
clássica para explicar os fenômenos
psicológicos, Geley passa a tratar da
psicologia subconsciente. Está verifi¬
cado, e já se tornou domínio pacífi¬
co, quâ o Inconsciente exerce papel
primordial no instinto, na psicologia
inata, no psiquismo latente e no gê¬
nio. Esse subconsciente inato é, por
vezes, de influência soberana e im¬
perativa na vida do indivíduo. Não é
necessário citar exemplos, porque sob
os nomes de índole, ou de pendores,
ou de genialidade, todos nós conhe¬
cemos numerosos exemplos. Existe,
pois, um psiquismo oculto a que Ge-
ley dá o nome de criptopsiquia, mas
além da criptopsiquia existe uma me¬
mória subconsciente que recebe e a-
cumula tudo quanto nos passa pelos
sentidos. Para essa memória hão e-
xiste o esquecimento ; ela conserva
tudo quanto julgávamos olvidado pa¬
ra sempre, e em certas situações es¬
peciais traz tudo de novo à memória
Revista Internacional do Espiritismo
— 231
consciente. Por vêzes essa ressurrei¬
ção ocorre em momentos de perigo
brusco de morte por acidente. Há ca¬
sos em que o indivíduo recorda num
instante toda a sua vida em todas as
minúcias, todos os seus pensamentos
mais remotos e esquecidos. À essa
memória subconsciente, Ge.Iey dá o
nome de criptomnesia. Onde se con¬
serva ela, quando o cérebro todo já
se refez pela sucessão das molécu¬
las, e tudo parecia morto para sem¬
pre? Impossível compreendê-lo á luz
da ciência materialista, mas facílimo
de explicação para a ciência espírita,
pois que o Espírito, e não o corpo, é
a personalidade pensante.
A seguir o nosso Autor estuda
as alterações da personalidade. São
dois problemas já ricamente regista¬
do pelos cientistas :
l.° O problema da diferença
psicológica em relação à persona¬
lidade normal : diferença não só de
direção, de vontade, mas também
de caráler geral, de lendências, de
faculdades, de conhecimentos ; di¬
ferenças ião radicais, afgumas vê¬
zes, que implicam, enlre o « eu »
normal e a personalidade segunda,
oposição completa e hostil.
• 2.° O pioblema das capacida¬
des supranormais que vêm unidas
frequentemente às manifestações da
personalidade ou personalidades se¬
gundas».
Poderíamos acrescentar, por e-
xemplo, diante de Francisco Cândido
Xavier, que estas capacidades supra¬
normais aparecem em centenas" de
«personalidades segundas».
Mas o que é verdade, fóra de
dúvida, é que a ciência materialista
clássica não pode explicar nenhum
dos dois problemas.
Aqui passa Geley a tratar do
«subconsciente chamado supranor-
mal» e diz logo que «a psicologia
supranormal é um mundo, cuja ex¬
ploração apenas se inicia».
Nesse capítulo alista êle : Leitu¬
ra do pensamento; Sugestão mental;
Telepatia; Lucidez, etc. Pela telepa¬
tia póde se ver à distância, ver num
fuluro próximo ou num passado pró¬
ximo. Pela lucidez, em suas infinitas
modalidades, o indivíduo obtém co¬
nhecimento sem o concurso dos sen¬
tidos, por vêzes a grande distância,
outras vêzes no futuro. Por vêzes a
lucidez alcança acontecimentos futu¬
ros e os descreve em todas as minú¬
cias. Um só exemplo nos basta : Em
lôóô Sonrel teve a visão minuciosa
da guerra entre a França e a Alema¬
nha em 1870-71 : o desastre das ar¬
mas francesas em Sédan, o sítio de
Paris, a Comuna; a guerra de 1914-
18; mas tudo relatou como no pre¬
sente, como estando assistindo na¬
quele momento aos acontecimentos,
como pormenores precisos e verí¬
dicos.
Como explicar todos êsses fe¬
nômenos da psicologia supranormal
pela ciência materialista?
Só admitindo a existência do Es¬
pírito com faculdade de comunicar-
se com outros Espíritos mais eleva¬
dos do que os habitantes da Terra,
podemos começar a compreender tais
fenômenos, ou, pelo menos, começar
a perceber que «existe muita coisa
além da nossa vã filosofia».
Quando as crenças espíritas se houverem vulgarisado, quando esti¬
verem aceitas pelas massas humanas e, a julgar pela rapidez com que
se propagam, êsse tempo não vem longe, com elas se dará o que tem
acontecido a Iodas as idéias novas que hão encontrado oposição : os sá¬
bios se renderão a evidência. Até então será intempestivo desviá-los de
seus trabalhos especiais, para obriga los a se ocuparem cpm um assunto
estranho, que não lhes está nem nas atribuições, nem no programa. En¬
quanto isso não se verifica, os que, sem estado prévio e aprofundado da
matéria, se pronunciam pela negativa e escarnecem de quem não lhes
subscreve o conceito, esquecem que o mesmo se deu com a maior par¬
le das grandes descobertas que fazem honra à humanidade.
ALLAN KARDEC.
— 232
Revista Internacional do Espiritismo
Onde Ides, Mocidade Louca do Brasil?
(Sobre as Juventudes
Um pouco de história. — Uma diretriz, fruto
da Experiência. — Despersonalismo na
ação visto de mais alto.
O movimento de Juventudes Espí¬
ritas nasceu em S. Paulo, no Bairro de
Santana, aí por 1934.
Tivemos, para logo, uma carta de
seu iniciador, convidando para êle a nos¬
sa adesão e colaboração.
Estavamos, porém, entregue a po¬
lêmicas, na suposição de que, terçando ar¬
mas com sacerdotes e doutores, na defe¬
sa de princípios doutrinários, estivessemos
servindo, melhormente, a Doutrina.
Contudo, escrevemos um artigo em
REFORMADOR, animando o movimen¬
to e fundamos, no ano seguinte, a Moci¬
dade Espírita de Nova-Iguassú.
A mais antiga, atualmente, no Bra¬
sil, porque fundada a 23 de Junho de
1935, visto como o movimento de S. Pau¬
lo fracassou.
Fomos, posteriormente, a S. Paulo,
e assistimos, incógnito, a reunião de uma
juventude espírita.
Números de música, declamação,
muita paralogem sobre o divórcio e so¬
bre a existência de Deus, e nada de Dou¬
trina Espírita.
Decepção para nós.
Bem diferente era o programa do
movimento de Nova-Iguassú, errado, ain¬
da, numa coisa : na sua autonomia.
Não nos animamos, contudo, a sair
a campo, agitando os moços, que as po¬
lêmicas ainda monopolizavam nossas aten¬
ções, nossa melhor atividade a serviço da
Doutrina.
A construção do Lar de lesus foi o
alto lá! a nossas atividades polemísticas.
Nem pela atividade que os jovens
espíritas de cá tiveram no evento, que
foi marcante ; nem por isso, nos resolve¬
mos a sair a campo, agitando Juventudes...
Um ano mais tarde, cai-nos um jor¬
nal às mãos, profano, com um apêlo-
comentário com o mesmo título destas
razões.
Espíritas Organizadas)
Perguntava o jornalista, depois de
tristes e dolorosas considerações :
— Onde ides, mocidade louca do meu
"Brasil f
Dolorosas e tristes considerações
mais ou menos assim :
— Mocidade que só vibra pelo fu¬
tebol ; que só leva a sério esportes e fu¬
tilidades ; que leva todo o ano em pleno
carnaval e aguarda o carnaval do ano.
Mocidade cuja cultura não sóbe além dos
bonequinhos das télas de cinema, de can¬
tores de rádio e de jogadores de futebol.
Mocidade que abarrota os ginásios menos
para estudar do que para conseguir, de
qualquer modo, certificados de exames
finais, usando, para tanto, a cola como
instituição legal. Mocidade que transfe¬
riu o talento da cabeça para os pés e pa¬
ra os músculos, por isso é que dos pro¬
gramas ginasiais, a parte esportiva é a
que mais a interessa. Mocidade que per¬
deu o respeito aos mais velhos, que pa¬
rece desconhecer a palavra educação. Mo¬
cidade que perdeu o apêgo à família e
foge do decoro público, como aí estão
provando seus modos e as cenas indeco¬
rosas de namoro nos veículos, nos cine¬
mas, nas praias de banho, nas ruas. Mo¬
cidade que só sái à rua, em protestos co¬
letivos, pugnando por descontos nas ca¬
sas de espectáculos, como a campanha
dos 50 o/° nos cinemas, embora em ses¬
sões nas horas das aulas, para gazeiar.
Mocidade que, se não tem vícios, tem o
vício de fumar . . .
zMocidade louca de meu Brasil, onde
ides nesta disparada criminosa ?
Se o Brasil de hoje, governado por
espíritos que vieram de regimens de vida
e de educação em que se formaram os
Rui Barbosa e Rio Branco, é isto que aí
está, que será de vossa terra, quando fôr
governada por vós, daqui ha 30 ou 50
anos ?
O painel chocou-nos dolorosamente,
porque somos, ainda, dos que amam sua
terra e sua gente.
E lembramo-nos que uma época hou¬
ve em que, também em Paris, uma voz
se ergueu, advertindo a mocidade. A voz
Revista Internacional dó Espiritismo
- 233 —
de Rauol Pictet, em 1908, que descobrira
a mocidade francesa estava envenenada
pela descrença e futilidades da época.
E a época não conhecia, ainda, o
futebol feito profissão, fonte de riquezas
e de glórias, cuja imprensa e rádio lhe
dedicam páginas e mais páginas, progra¬
mas e mais programas. Nem havia, ainda,
o rádio e as radiomanias, glorificando to¬
da sorte de futilidades.
Pior, portanto, a nossa época, que o
envenenamento vai desagregando a nacio¬
nalidade, visto como já desagregou a fa¬
mília, o lar, a educação. ,
Sacudido pelo grito de alarma, foi,
então, que resolvemos a algo que pudes¬
se, de algum modo, atenuar, no mínimo
que fosse, o descalabro.
Quanto mais não fosse, no campo
espirítico.
Voltamo-nos, animado e animoso,
ao movimento de juventudes Espíritas, só
pelo prazer de animar, de incentivar, de
arregimentar, por amor ao Brasil, por pe¬
na de muitos jovens, por serviço á Dou¬
trina.
Dizemo-lo, para que não se pense,
ferindo o «Não julgueis» do Evangelho,
que estamos fazendo obra pessoal, que
procuramos cartaz á custa das Juventudes.
Ao contrário : dispomos, mercê de
Deus, de cartaz para colocá-lo a serviço
das Juventudes.
E’ o que vimos fazendo.
E decorre daí o desenvolvimento
que o movimento de Juventudes Espíri¬
tas vai tendo no Brasil.
E’ certo que sua hora chegou. Mas,
se não houver quem viva o imperativo
da hora, claro que a hora será adiada pa¬
ra outra época.
Foi bem o que se deu com a de¬
mocracia e o Cristianismo, ha tantos sé¬
culos revelados à Terra, entretanto, ain¬
da sem o seu perfeito cumprimento . . .
Preferimos, aliás, a conselho de Pau¬
lo de Tarso, dar a receber.
Para dar mais, muito mais, ao Mo¬
vimento juvenil, é que fomos, em com¬
panhia do prezadíssimo confrade, Artur
Lins de Vasconcelos, ao ilustre presidente
da Federação Espírita Brasileira, que sou¬
bemos resolvera se interessar pelo movi¬
mento, aliás, com mais recursos e auto¬
ridade para tanto ; para dar mais ao mo¬
vimento procurámos, assim, aquela casa,
para transferir o pouco que já temos fei¬
to em prol do movimento.
E este pouco já monta a cento e
poucos movimentos organizados por nossa
influência direta ou indireta, espalhados
de Norte a Sul, do litoral ao centro do
País. Uns 80 % a trabalhar por um só
programa, cada um dentro de suas possi¬
bilidades, uns a dar mais, outros, menos.
Deixamos com aquele ilustre con¬
frade três questões a ser estudadas e, pos¬
teriormente, resolvidas :
a) Se interessa á Federação Espíri¬
ta Brasileira encampar o que vimos fa¬
zendo para a arregimentação de moços
espíritas em Juventudes, afim de orientar
uniformemente, o movimento ;
b) Se quer promover o i.° Con¬
gresso de Juventudes Espíritas, talvez no
ano próximo, pelas férias de Julho, para
maior desenvolvimento e incentivo ao
movimento, de que poderá sair o Con¬
selho orientador das Juventudes do Brasil ;
c) Se quer nossa colaboração ex¬
pontânea para tanto, visto como, colo¬
cando a Doutrina acima dos agrupamen¬
tos sociais, e êstes, acima dos indivíduos,
estaremos, sempre onde nos chame o tra¬
balho eficiente e honesto, sem paixões e
propósitos subalternos.
Parece-nos que assim procedendo es¬
tamos dando provas concretas de nosso
despersonalismo. De resto, se o que já fi¬
zemos, até agora, tivesse carácter de obra
pessoal, certamente que não seriamos vis¬
to do mais alto e por quem nos conhece
melhor, porque por José Petitinga,
que nos trouxe, ha mais de trinta anos,
para a Doutrina, conforme a Mensagem
que nos enviou pela mediunidade do Chi¬
co Xavier, Mensagem mediúnica, recebi¬
da depois de um programa de intensa vi¬
bração doutrinário-artística, com música,
declamação e canto espiritualistas, men¬
sagem que publicámos com a denomina¬
ção de Espiritismo de Vivos.
Ninguém, de resto, faça obra pes¬
soal no Espiritismo, nem, tampouco, obra,
com segundas intenções, em torno de gru-
pinhos, que o Espiritismo é obra de apro¬
ximação e confraternização em nome do
Cristo e por amor do Cristo . . .
Rolará, agarrado a sua obra, quem
assim proceder . . .
No serviço da Doutrina, o bom
operário receberá cem por um que faça.
A’s vezes, até mais, por misericór-
— 234 -
Revista Internacional do Espiritismo
dia e de acréscimo, que é o nosso caso.
Temos recebido mil por um, pelo
pouco que já envidámos a pról deste mo¬
vimento, já reunindo, por toda parte jo¬
vens entusiastas em juventudes organiza¬
das, já contagiando de nosso entusiasmo
jovens de cabelos grisalhos, como nós.
E que desejamos nós, senão que es¬
ses jovens trabalhem, progridam, se unam
e realizem obras dignas deles e da Dou¬
trina 1
Sómente nisso, que não em posto
algum de comando e orientação sistemá¬
tica, está a maior recompensa que pode¬
mos esperar de tão santo labor.
Quasi duas centenas de Juventudes
Espíritas já se agitam por aí além
Quasi uma centena a trabalhar por
um mesmo programa. Um esforço eficien¬
te para, talvez, realizar aquilo que espí¬
ritas de nossa idade não conseguem : uni¬
dade de trabalho e de ação.
Mais de uma centena a trocar cor¬
respondência animada sôbre coisas da
Doutrina, cimentando amizades sinceras
que desafiarão, por certo, espaço e tempo.
E as «Juventudes» que trabalham
«ombro a ombro e lado a lado com os
«maduros* e experimentados, recebendo
destes estímulos e experiências e confe¬
rindo-lhes calor e vivacidade, estas, as
que vão produzindo mais e melhor. Don¬
de, a conclusão que tiramos de que uma
Juventude Espírita deve funcionar como
departamento de uma instituição já exis¬
tente. Seu departamento juvenil. Deve
funcionar assim, por medida cristã, para
a obra de solidariedade, por economia de
tudo.
Juventude espírita autônoma, que
funcione confiada em si mesmo, parece
reino dividido. E todo reino dividido . . .
Além do maisfc a trabalheira para a cons¬
trução de sédes e as dificuldades para o
registro jurídico, de vez que os juventinos
são, na sua maioria, de menor idade ?...
Os moços podem muito, é fato, pe¬
la força da mocidade mesma, de seu en¬
tusiasmo. Mas, sem a experiência que só
os anos podem trazer...
Entregues a si mesmos, os moços
fazem mais tolices do que coisas que sir¬
vam. E não é nenhuma novidade, visto
como ha tanta tolice de velhos, por aí
afóra.
Temos exemplps cá por cá, a den¬
tro do movimento moço mais velho do
Brasil.
Já atravessou três fases distintas,
só não deixando de existir, devido a pon¬
deração dos mais velhos.
Na primeira fase foi dirigido por
jovem professora^ e por um intelectual,
jornalista e polemista. Fracasso.
Na segunda fase. por excelente mé¬
dium, oradora e receitista. Fracasso.
Podemos alinhar aqui outros exem¬
plos. E até mais chocantes.
A autonomia de movimentos juve¬
nis, sôbre ser manifestação orgulhosa de
confiança em si mesmo, é prenúncio for¬
te de falência antecipada.
Daí, a necessidade de mentores, ou
que outro nome tenham, experimentados.
Somos dos que ouviram em moço
que *o Espiritismo é sério de mais para
interessar a moços, que não levam nada
á sério.»
Pregamos, hoje, o contrário, cons-
cio de que jovens bem orientados e cons-
ciêntes, levam as coisas mais a sério do
que se póde julgar.
Bem orientados, é bem de ver, que
não orientados por si mesmos, que lhes
faltam, em consequência de sua pouca
idade, «engenho e arte» para tanto.
Nesse caso, verificamos que é mais
fácil — e aqui repetimos uma vez mais—,
contagiar os moços de entusiasmos e vi¬
brações santas, do que levar velhos es¬
píritas a despir os andrajos de homem
velho, que eles pensam são roupagens.
mmm—m
E continuaremos, de qualquer mo¬
do, a animar os jovens para o serviço de
sua espiritualização, para sua arregimen-
tação em Juventudes Organizadas , na
consciência de que lhes estamos prestan¬
do um grande serviço. E bem maior ao
Brasil e ao Espiritismo...
Leopoldo Machado.
Imenso é o Irabalho que vos compele realizar na seára espírita.
Uni- vos cada vez mais em espírito de solidariedade , sob o lema — lodos
por um e um por lodos, afim de que o vosso Irabalho se complete no
Senhor. Camargo.
Revista Internacional do Espiritismo
— 235
OS SINAIS DOS TEMPOS @
«E farei ver prodígios em cima no céu e sinais em baixo na ter¬
ra, sangue, fogo e vapor de fumo. Mas, não será o fim.»
Depois das previsões feitas por Je¬
sus acerca do fim dos tempos,
ou seja do cumprimento das Es¬
crituras, pediram os fariseus que
lhes mostrasse algum prodígio no céu.
Mas, Jesus, «arrancando do íntimo do co¬
ração um suspiro», disse : — «Por que me
pede esta geração um prodígio ? Em ver¬
dade, vos digo que a esta geração se não
concederá prodígio». (Marc. VIII-12).
Realmente, a geração que aí está,
sem atrativos e sem beleza, passará, sem
ser digna de muito receber, porque se
tornou indigna dessa graça ; ela ficará as¬
sinalada por grandes descobertas, é ver¬
dade, mas no sentido do mal. Daí Jesus
ter dito que a esta geração não seria con¬
cedido nenhum prodígio.
Mas, eles insistiram : — «Então, dize-
nos, quando estas coisas hão de suceder.
Que sinál haverá, quando estas profecias
começarem a se cumprir ?»
E o Mestre com a serenidade que
lhe era peculiar, lhes diz : — «Quando isto
acontecerá, daquele dia, daquela hora,
ninguém o sabe ; nem os anjos dos céus,
senão o Pai» (Mat. XXIV-36). Todavia,
prosseguiu, Jesus: — «Quando ouvirdes fa¬
lar de guerras e de tumultos, não vos
assusteis ; estas coisas, sim, devem suceder
primeiro, mas não será logo o fim. E,
então, levantar-se-á nação contra nação e
reino contra reino. Haverá grandes ter¬
remotos por varias partes, e epidemias e
fomes, e aparecerão coisas espantosas t
grandes sinais no céu ; e haverá sinais no
sol e na lua e nas estrelas, e na terra
consternação das gentes, pela confusão em
que as porá o bramido do mar. Mas, an¬
tes de tudo isto, lançar-vos-ão eles as
mãos, e perseguir-vos-ão, entregando-vos
ás sinagogas e aos cárceres, levando-vos a
presença dos reis e dos governadores, por
causa do meu nome. Isto vos será oca¬
sião de dardes testemunho» (Luc. XXI-
9- 13)-
E’ o cumprimento integra! da pro¬
fecia de Joel : — «Depois disto acontecerá
também o que vou a dizer: — Eu derra¬
marei o meu espírito sobre toda a carne ;
e os vossos filhos e as vossas filhas pro¬
fetizarão, os vossos velhos serão instruí¬
dos por sonhos, e os vossos mancebos te¬
rão visões. E derramarei também naque¬
les dias o meu espírito sobre os meus ser¬
vos, e sobre as minhas servas. E darei a
ver prodígios no céu, e na terra prodí¬
gios de sangue, e de fogo, e de vapor de
fumo» (Joel, II-28-30).
Embora jesus tenha dito que o Pai
saberia quando estas coisas se dariam, nós
outros, pelos sinais que ele próprio avi¬
sou que apareceriam, no céu e na terra,
estamos capacitados para compreender,
que os tempos previstos, são os que esta¬
mos vivendo, pois, não só estamos obser¬
vando os sinais no céu e na terra, como
as coisas espantosas, de que também nos
falou Jesus.
E como na hora que passa, tudo
prenuncia a chegada dos tempos novos,
mister se faz que os espíritas, muito jus¬
tamente, considerados «os escolhidos do
Pai» ou seja «os trabalhadores da undé¬
cima hora», se preparem para enfrentar
com denodo as lutas que terão de vir.
Por toda a parte estão surgindo os
médiuns, curando, fazendo andar os para¬
líticos, operando os mesmos prodígios que
Jesus fizera, e até mesmo no seio da pró¬
pria Igreja : Os padres também estão cu¬
rando .. . E como também estava previs¬
to, estão sendo provados na sua fé, ou
seja, estão vivendo aquela hora do teste¬
munho, de que nos fala Lucas.
Madame Jael, em Pernambuco, para
poder continuar a aplicar os «passes», que
realmente curam, acaba de requerer um
mandato de segurança. O padre Antonio,
em Ucrânia, no Sul do País, está tam¬
bém produzindo curas. No segundo caso,
porém, na opinião de outro sacerdote, o
vigário de Ucrânia — «As benções que o
padre Antonio administra aos milhares de
fieis que o procuram são as mesmas que
qualquer sacerdote póde administrar. Aliás,
todos nós, ministros de Deus, somos obri¬
gados a ministrá-las. Portanto, elas são
lançadas em rigorosa observância aos dog-
- 236
Revista Internacional do Espiritismo
mas da igreja. Nada de exorcismos, como
admitem alguns insensatos».
Que melhores sinais poderiamos de¬
sejar do que estes ?
Mas, Jesus, consoladoramente, diz :
«Importa que estas coisas sucedam, êste
não será ainda o fim !» ,(Mar. XIII-7).
E realmente, não será o fim, por¬
que, nada terá fim sobre a terra. Dentro
do preceito da lei de evolução, tudo se
transforma ; tudo desaparece, para reapa¬
recer depois !
O ano dois mil, depois de Jesus
Cristo, assinala, apenas, a conclusão do
milênio, nos destinos da Humanidade, ou
seja o término da éra adâmica.
Por isto não será o fim» porque a
vida continuará, através das épocas e dos
tempos ! . . .
Com o término do 'milênio, a ter¬
ra terá atingido, o cume ou o vértice da
escala, na história da sua evolução plane¬
tária, quando, então, passará a uma nova
categoria ; quando haverá o absoluto do¬
mínio do homem privilegiado do tercei¬
ro milênio. Por fôrça das circunstâncias,
êle, terá substituído, nas suas perquirições,
a psicologia experimental pela psicologia
intuitiva.
O problema fundamental da paz do
futuro, seu fator primordial, residirá no
elemento homem. Êle será a chave do
mundo do futuro. Estará onde estiver o
homem, como a razão de ser das suas
ações, fonte primária de todos os aconte¬
cimentos.
«Não haverá, portanto, mundo me¬
lhor sem homens melhores», diz-nos Ema¬
nuel, em sábia comunicação.
Nova Iguassú, Agosto de 1947.
Um amigo nosso, médico, delicia se,
agora, com um livro intitulado Espiri¬
tismo no Brasil — editado há uns quinze
anos. E’ êle da autoria de dois ilustres
psiquiatras. reforçando-lhe e robustecendo-
lhe as páginas uma belíssima plêiade for¬
mada de doutores de vária espécie, que
vieram todos dar o seu parecer contra o
Espiritismo e seu apoio a uma campanha
de repressão a tão nefasta doutrina.
O nosso amigo está um tanto ou
quanto impressionado com os estragos
que aquele ariete vem fazendo nas fileiras
espíritas, principalmente depois que hou¬
ve uns debates em certa sociedade por
êle frequentada, e em vista das citações
contínuas hauridas no famoso livro.
Um dos p.mtos ventilados foi o das
mesas girantes que, no opinar da douta
assembléia, e diante das discussões em
tõrno do assunto, ficou inteiramente li¬
quidado. Liquidaram-no as páginas do re¬
ferido tratado, com as luzes dos seus aba¬
lizados colaboradores.
Boa oportunidade para focalizar a
matéria.
Ora, na citada obra, dizem os seus
autores, escudados em Chevreul :
«Os pensamentos provocam os movimentos
involuntários. E’ o pensamento que põe
a mesa em movimento, contra a vontade
individual. Da mesma forma que nas experiên¬
cias com a varinha adivinhatória e com o pên¬
dulo explorador, os processos intelectuais pos¬
tos em jogo não são sómente involuntários, mas
também inconscientes».
Depois desta proposição, os referi¬
dos autores declaram que o médium ig¬
nora o movimento da mesa e não reco¬
nhece como suas as respostas dadas. Ila¬
ção que se impõe : suporem que se trata
de Espíritos. E para demonstrarem que
as falas da mesinha devem ser do mé¬
dium ou de quem lhes toca, tratam das
experiências de Baudoin, experiências, se¬
gundo os autores, «altamente demonstra¬
tivas dêsses factos».
Preliminarmente, conviria indagar se
se trata de pensamento ou subconsciente.
Adiante, porém Essas experiências alta¬
mente demonstrativas consistem no se¬
guinte : Trata-se de um círculo em que
se traçam linhas. Um indivíduo passa a
mão num pêndulo e lhe mandam que
«pense bem» numa das linhas, acompa¬
nhando-a mentalmente de uma extremi¬
dade à outra. No fím de alguns segundos,
o pêndulo começa a oscilar na direção
Revista Internacional do Espiritismo
— 237 —
da linha. De onde se conclue que pêndu¬
lo de Baudoin, varinha adivinhatória e
mesa girante é tudo a mesma coisa. E
está explicado tudo 1
Quem conhece, porém, os mencio¬
nados fenômenos, verifica que êles se pa¬
recem uns com outros como ovos com
espetos.
Entre o pêndulo e a vára mágica
não há nada de comum, como não se as¬
semelham os prodígios da vára com as
falas da mesa, como nada há que faça
confundir a mesa girante com o pêndulo.
Na dita experiência de Baudoin, o
indivíduo tem diante dos olhos um círcu¬
lo com linhas, isto é, qualquer coisa que
êle vê e na qual mandam que apense bem>.
São, por consequência, banalíssimos mo¬
vimentos de músculos, de acordo com o
pensamento do indivíduo. Aí póde bem
ser que o pensamento dirija os músculos
e os músculos façam mover o pêndulo.
Pode ser . . .
Diversissimo é o caso da varinha
mágica, onde o agente sái a descobrir
coisas que nunca estiverem em seu pensa¬
mento, e muito menos em seu inconscien¬
te, que êle não viu, que não sabe onde
estão, que não sabe como são. Tem co¬
mo guia único a varinha. E com ela des¬
cobre lençóis dágua, minérios, tesouros,
objetos ocultos ...
Em que se póde relacionar o fenô¬
meno com o do pêndulo, onde o experi¬
mentador tem tudo à vista, onde sabe
que o pêndulo deve orientar-se de certo
modo e onde um minúsculo movimento
de mão é o suficiente para que a orien¬
tação se verifique ?
Não se póde dizer, com a varinha,
que o pensamento provocou o que quer
que seja, porque o explorador desconhe¬
ce, por completo, o lugar em que se acha
o que êle vai descobrir, e, muitas vezes
o que deve ser descoberto. Que pensa¬
mentos podem aqui provocar os movi-
mentos? Pensamentos de que? Como po¬
derão agir os pensamentos? E’ realmente
pena que o Chevreul, ou o Baudoin, ou os
autores do Espiritismo no Brasil não nos
possam explicar isto. Quanto aos autores,
dêles espero -há 15 anos uma informação
a respeito. Nada até agora !
Sem esperança de explicação, pros¬
sigamos.
Muito mais complicada, ainda, é a
questão da mesa giratória. Em i.° lugar,
conviria que os autores nos esclarecessem
sobre o processo por que o pensamento
de determinada pessoa fará da mesa gi¬
ratória um ser raciocinante. A mesa não
se limita a simples movimentos oscilató¬
rios, como no caso do pêndulo e da vára :
ela soletra o alfabeto,, apresenta palavras;
estas formam frases, e as frases juizos.
Ela pensa, raciocina, discute, revolta-se,
contesta, contradiz, adivinha, arrazoa . . ,
Fala no em que ninguém pensa, assom¬
bra pelo imprevisto. A’s vezes se mostra
superior em moral, em inteligência e em
conhecimentos, aos circunstantes. Fabrica
prosa e versos admiráveis, constrói sen¬
tenças, forma doutrina, aconselha, identi¬
fica uma pessoa morta, faz revelações,
diz coisas de todos ignoradas, previne,
premune . . .
Muito parecido com o pêndulo I .. .
Mas é uma parecença que só podem per¬
ceber os afortunados, os «iniciados» em
tais questões.
Os profanos como nós, nem por es¬
forço, mais mágico que o da vára, pode¬
rão abiscoitar a analogia. Porque não bas¬
ta afirmar que é o pensamento que trans¬
mite à mesa o dom da palavra e da ra¬
zão. Seria conveniente elucidar-nos por
que artes se senta um médium de poucas
letras ou mesmo de nenhumas, a certa
mesinha, sem que o mandem «pensar
bem» em nada, sem que êle pense no
que vai dizer a mesa, ou pense mesmo
em coisa alguma — e entra a mesa a dis¬
correr.
Ainda há mais: a mesa move-se e
discursa sem que lhe toquem. A trans¬
missão do pensamento aí é que é um ca¬
so sério ! E que semelhança com o pên¬
dulo de Baudoin I . . .
Já seria difícil perceber como os
músculos de alguém pudessem imprimir
velozmente, febrilmente, instantâneamente
letras, palavras, frases, períodos, idéias,
sentenças, mensagens ; já respondendo a
perguntas, já revidando aos interlocutores,
já os contrariando, já prestando informes,
já fazendo descobrimentos, já dizendo coi¬
sas inesperadas, já prevendo acontecimen¬
tos, já se identificando como um defunto,
e, por vezes, defunto de que ninguém
cuidou, já produzindo notáveis peças . . .
Tudo isto seria dificílimo perceber com o
auxílio das mãos; como se poderia expli¬
car, sem o auxílio de mão nenhuma, é o
que suplicaríamos nos esclarecesse a
douta assembléia em que esteve o nosso
amigo, já que perdemos a esperança nas
238
Revista Internacional do Espiritismo
elucidações dos autores do livro fulmi¬
nante, e é impossível ir buscar o Baudoin
ou o Chevreul.
Teríamos, pois, que o pensamento
passaria para a mesa sem veículo. Que
progresso ! Melhor que o fio telefônico.
Já não podemos mais apelar para os
pensamentos provocadores de movimen¬
tos involuntários. Aqui as idéias teriam
que transformar-se em alavancas capazes
de fazer mexer a mesa, e a alavanca em
abeccdário, e o abecedário em cartilha, e
a cartilha em discurso.
Há ainda mais e melhor. Quer te¬
nham as mãos sobre a mesa, quer não as
tenham, existem sempre várias pessoas e
vários médiuns numa sessão. E, por ve¬
zes, tantos quantos são os seus compo¬
nentes. E’ impossível acreditar que este¬
jam todos pensando exáta, precisa, justa¬
mente, da mesma forma. Nunca houve
isso ! Cada qual deve ter uma preocupa¬
ção diversa, um pensamento diverso, uma
interrogação diversa. Entretanto, não há
uma baralhada infernal ; nâ^o se verifica
nenhuma confusão. Ao invés de um pan¬
demônio, de uma tôrre de Babel, de uma
embrulhada terrível, que seria a tradução,
pela mesa, ainda que por processos mis¬
teriosos, de um pensar à mistura, de uma
verdadeira miscelânea de idéias, conjetu¬
ras, suposições, dúvidas, interrogações,
conceitos, ou subconscientes, a mesa ex¬
pressa-se com ordem e método, rebate os
pensamentos e as proposições apresenta¬
das, age com perfeita independência. E
teima, por fim, em deciarar-se um defun¬
to, isto unanimemente, continuamente,
quaisquer que sejam as doutrinas filosófi¬
cas ou religiosas da comunidade.
Enfim, já que saindo do pêndulo,
do círculo ou das retas de Baudoin, os
honrados psiquiatras e seus admiradores
nada mais nos têm dito que nos elucide,
pediriamos ao amigo que voltasse à douta
assembléia, onde com tanto critério e sa-
bedi ria se discutiu e aprovou a tese do
importante livro, e nos trouxesse a expli¬
cação que a nossa ignorância suscita.
P2 ousamos êsse pedido, com receio
de que as nossas cabeças fiquem girando
mais que as mesas.
Carlos Imbassahy.
(ç) Fenômenos de Materialização 6)
x
Na terça-feira extinta, dia 28, o« An¬
dré Luiz» esteve cheio de vibrações du¬
rante a reunião alí realizada, da qual es¬
tive ausente por motivos de força maior,
sob a presidência da senhorinha Lais Tei¬
xeira Dias, onde se verificaram impor¬
tantes fenômenos transcendentes de efei¬
tos físicos, os quais nos foram relatados
com extremo entusiasmo, por diversos
companheiros de lides doutrinárias. Sou¬
bemos, por exemplo, que depois de se
terem materializado os espíritos bondo¬
sos de Scheila e Batuira, os quais vieram
ao recinto, tocando vários assistentes, ma¬
terializou-se pela primeira vez o patrono
do Grupo, o preclaro espírito de André
Luiz, discorrendo sobre o Evangelho, com
segurança e sabedoria, trazendo a assis¬
tência em suspenso com a sua voz firme,
forte e penetrante provocando fortíssimas
emoções nos presentes que, contagiados
por um sentimento afetuoso e fraterno,
chegaram a banhar suas faces de lágri¬
mas confortadoras. Depois disso — infor¬
maram-me — Neusa recomenda que con¬
videm seu pai para assistir os trabalhos
da próxima reunião e Scheila, por sua
vez, tece vários comentários e expende
considerações oportunas ácerca dos prin¬
cípios gerais da Doutrina, mandando en¬
cerrar os trabalhos. Pois bem : foi debai¬
xo desta influencia benéfica que inicia¬
mos hoje, sábado, i.° de Fevereiro, a nos¬
sa sessão de tratamento espiritual, com
uma assistência enorme, composta do con¬
siderável número de vinte e nove pessoas,
incluindo os componentes do Grupo e
alguns visitantes do Rio, de Nova Iguas-
sú e de Juiz de Fóra Os trabalhos fo¬
ram dirigidos pelo Ferreira, que faz a
prece inicial e lê um capítulo do livro
«O Nosso Lar» comentado por mim, na
segunda parte da reunião. Arací dá-nos
excelentes conselhos, por incorporação,
através do médium Lins, fazendo ver a
significação e o alcance das nossas reu¬
niões e esclarecendo aos visitantes a me¬
lhor maneira de se conduzirem durante a
Revista Internacional do Espiritismo
— 239 —
sessão, recomendando á presidência que,
iniciada a segunda parte, procedesse a
narrativa dos resultados a que nos tem
conduzido as nossas reuniões de trata¬
mento astral, no processo de transmuta¬
ção de células, o que realmente foi feito.
Recolhido o médium á cabine e depois
de cantado o hino «Entardecer», o Fer¬
reira relata o seu caso pessoal tecendo
comentários sobre a intervenção cirúrgi¬
ca e a consequente cura, com que foi be¬
neficiada sua esposa. Da cabine, a esta al¬
tura dos trabalhos, fazem-se várias explo¬
sões de luz de cores várias, sendo que se
verificou o facto de se apresentarem, si¬
multaneamente, esses fenômenos, nas duas
extremidades do recinto. Scheila, avisa-
nos para que conservássemos acesa a lâm¬
pada pequena, durante algum tempo mais,
pois que esta não estava prejudicando a
boa produção dos fenômenos. O bondo¬
so espírito vem, materializado, ao recin¬
to, ostentando suas belas tranças, trajan¬
do diferentemente de como se nos tem
apresentado e avisando o nosso irmão
Magaldi de que sua filha, a nossa meiga
Neuza, se materializaria, mas que fizesse
todos os esforços para não se emocionar,
prejudicando, talvez, o brilho do seu con¬
tacto. O nosso confrade diz estar muni¬
do de todas as energias para a eventua¬
lidade da apreciação da realização do seu
grande sonho, que era o de ver e falar
com o ente querido que ha poucos me¬
ses, ainda era o ornamento fidalgo do seu
lar. Scheila ainda volta ao recinto depois
de volver à cabine, fazendo passes nas
pessoas, entre os assistentes, destacados
para serem tratados na reunião. O Fer¬
reira estabelece uma espécie de inquérito,
dando a palavra , aos visitantes e a alguns
confrades da casa, cada qual externando
o seu ponto de vista sôbre o que lhes
era dado presenciar. O confrade Newton
de Barros, professor do Ginásio Leopol¬
do, de Nova Iguassú, diz do seu entu¬
siasmo em apreciar os singulares fenôme¬
nos correntes, dizendo-se encantado, em¬
bora soubesse que os mesmos se realiza¬
vam facilmente e não obstante eles não
o levarem a convencer-se mais do que já
está, pois que de ha muito estava con¬
vencido da imortalidade da alma, da plu¬
ralidade da existência e da comunicação
dos espíritos, por diversas maneiras, se¬
gundo as diferentes modalidades mediúni-
cas. O irmão Aleixo Victor Magaldi, far¬
macêutico, poeta e jornalista, professor
L ' - •• , /
da Escola Superior de Farmácia e Odon¬
tologia, de Juiz de Fora, diz estar des¬
lumbrado com o que estava assistindo,
não propriamente com a apreciação dos
fenômenos de materialização propriamen¬
te ditos, dos quais já tinha conhecimento,
em minúcias, pela leitura dos clássicos,
mas principalmente pelo processo de cu¬
ras por meio da troca de células que os
espíritos manejavam facilmente, aconteci¬
mento que vinha marcar um evidente
progresso na ciência de curar as enfermi¬
dades físicas, ampliando, quasi ao infinito,
as possibilidades de êxito no difícil e de¬
licado ministério, cavando assim, sulcos
profundos nos processos convencionais e
exclusivistas, geralmente eivados de pru¬
ridos sectaristas, das ciências oficiais. De¬
pois de uma prece, por mim proferida,
Neusa Magaldi se materializa, chegando
perto do seu pai, não podendo tocá-lo
devido a ter sentido profunda emoção,
recuando, a soluçar, com as mãos cobrin¬
do o rosto, como a querer suster o pran¬
to que a dominava. O José, volta a fa¬
lar-nos para nos dizer que Neuza ainda
voltava depois de refazer-se da explosão
emocional que a acometera, adiantando
que ela estava sendo assistida pelos de¬
mais guias, os quais lhe ministravam pas¬
ses magnéticos. D. Marilia Barbosa Macha¬
do é convidada a dizer das impressões
que a dominavam, acedendo ela com o
proporcionar-nos uma substanciosa prele¬
ção, dizendo que, com esta, completavam-
se três vezes em que ela tomava parte de
sessões de efeitos físicos, sendo uma em
Macaé, E. do Rio e outra em Uberaba,
E. de Minas, porém a esta ela acorreu
com maior interêsse, em virtude de ter
ciência de aqui se haver, já, materiali¬
zado o caro espírito que animou o corpo
de sua progenitora nesta existência, não
por mera curiosidade, sim por desejar re¬
ceber do espírito familiar as elucidações
e o conforto de que carecia. A jovem II-
za Chaves de Almeida, contadora, diz do
seu contentamento em assistir aos trans¬
cendentes trabalhos, produzindo um li¬
geiro improviso de cunho essencialmente
evangélico. O Luiz Mesculin Junior, con¬
tador e presidente de um Centro Espíri¬
ta de Juiz Fóra, comenta o facto de já
ter assistido várias vezes às nossas sessões,
porém só nesta é que presenciava os fe¬
nômenos de materialização. Diz ter ver¬
dadeira veneração ao espírito de nosso
patrono, tendo êste, já, se apresentado
c
Kevista Internacional do Espiritismo
- 240 -
aos olhos espirituais de sua esposa, mé¬
dium vidente e de incorporação, tendo
também, através dela, dado brilhante co¬
municação. D. Margarida Melich expen¬
de sua opinião pessoal a respeito dos fe¬
nômenos que tem observado, como com¬
ponente do Grupo para onde veio, por
necessidade, para cura de seus males físi¬
cos, por indicação dos nossos guias. O
Ferreira relata o facto de várias curas
aqui verificadas, e em Macaé, explicando
outrossim as razões da fundação do nos¬
so Grupo. Eu, visado pelas referências do
Ferreira, que me qualificavam entre as
pessoas de sua afinidade e simpatia, de
que precisava para organizar uma insti¬
tuição modelar, que se transformasse num
prolongamento do Grupo Espírita «Pe¬
dro», de Macaé, E. do Rio, onde se rea¬
lizam sessões de efeitos físicos com uma
finalidade superior à da simples produção
de fenômenos, qual seja a de cura dos
males físicos, tomo a palavra para expôr
que, vindo de Astolfo Dutra, Minas, on¬
de ajudei a fundar e presidi, durante dez
anos, a Cabana Espírita «Abel Gomes»,
cheguei a sentir-me desolado por desilu¬
sões que me arrastaram a três anos de
inatividade nas lides difusoras da Doutri¬
na, tendo-me eu reencontrado, recobran¬
do a serenidade e o vigor que deveriam
guiar as minhas atividades doutrinárias,
com o me integrar no movimento con-
fraternativo das Semanas Espíritas e com
a fundação do nosso Grupo «André Luiz»,
onde já tive oportunidade de ver muitas
entidades espirituais materializadas, entre
as quais os queridos espíritos de Abel
Gomes e David Pais dos Santos, o pri¬
meiro, meu grande amigo e mestre e o
segundo, meu pai nesta existência, um e
outro protetores e mentores meus de to¬
das horas ; onde já vi realizadas curas ad¬
miráveis e onde afinal e principalmente
vi transformarem-se, convertendo-se à
Doutrina da Terceira Revelação, os meus
parentes e afins mais próximos e os meus
amigos mais íntimos. Batuira vem à as¬
sistência, materializado apresentando suas
respeitáveis barbas, desta vez de cor de
azeviche. O espítito de Fidelino aparece-
nos, como sempre, aureolado de luz.
Neuza, materializada, volta à assistência,
dirigindo-se ao seu pai e mantendo com
êle rápido diálogo interrompido pela emo¬
ção mútua, regressando logo à cabine. Os
assistentes cantam «Almas Gêmeas», en¬
quanto que se materializa Nina Arneira,
que vem fazer passes na nossa confrade
Lais, aparecendo, concomitantemente, tam¬
bém materializado o espírito de Neuza,
no centro da cabine em plano superior,
tocando quasi o teto, movimentando-se
como se fora uma pessoa da terra. Um
outro espírito aparece então, materializa¬
do, que foi logo identificado pelo de
«Mãe Iza», dirigindo-se por meio de pa¬
lavras carinhosas à sua filha, D. Marilia
Barbosa Machado e sua neta Ilza Chaves
de Almeida ! O José Grosso fala-nos pa¬
ra nos avisar de que nos tinha deixado
uma luva de parafina, apresentando o mo¬
delo de uma das mãos e o respectivo
braço, aparecendo em seguida, do lado
direito da cabine, materializado, com a
sua respeitável estatura de cerca de dois
metros, escrevendo versos nos papeis ali
colocados, em branco, com as rubricas
minha, do Vitorino e do Ferreira. E en¬
quanto escrevia, um foco de luz se pro¬
jetava sobre o seu vulto, como se fôra
um farol a projetar-lhe os seus raios lu¬
minosos. O autor dêste fenômeno foi o
Fidelinho. O José ainda nos joga pedras,
das quais oferece nominalmente uma, a
menor, à D. Risoleta e outra, a maior,
ao Inácio e avisa-nos de que Araci e Ba¬
tuira tinham deixado dois sonetos no ál¬
bum da Dulcinha. Uma voz gutural enér¬
gica, se ouve. Era o querido espírito de
«André Luiz» que nos mimoseava com
uma palestra doutrinária, orientando-nos
por fim, de que deveriamos encerrar os
trabalhos. O Ferreira faz a prece inicial,
indo à cabine dar um passe magnético
no médium, despertando-o. Fomos à ca¬
bine apanhar a luva que o José nos ofe¬
receu e encontramos os dois sonetos no
album da Dulce, juntamente com os pa¬
peis contendo a mensagem poética do Jo¬
sé, homenageando a quasi todos os assis¬
tentes, produções essas que tenho o pra¬
zer de transcrever linhas abaixo. Poucas
pessoas se submeteram à prova da pesa¬
gem devido ao grande número de assis¬
tentes mas, dos que o fizeram, constatou-
se que o Gonçalves perdeu três quilos, o
Inácio 1/2 quilo, o Perrota 1/2 quilo e o
Peixoto um quilo.
«Para 0 album da Dulcinha
Menina — moça, formosa,
Liberta-te, da ilusão ;
Procura o doce clarão
Dessa vida esplendorosa.
Revista Internacional do Espiritismo
Nessa idade, és uma rosa,
Um jasmin ainda em botão ;
PÕe Jesus no coração
Que ficarás perfumosa.
Que sejas sempre um encanto
De amor puro e sacrosanto
Para toda a humanidade.
Trabalha para Jesus
E com carinho conduz
A todos da tua idade.
Do Batuira»
«Súplica
A’ Dulcinha
Meu Jesus, dá-me o calor
Do Evangelho da Verdade,
Para que eu, com destemor
Conquiste a felicidade.
Que eu receba a luz do amor
Da divina Caridade
E que, assim, possa transpor
A porta da eternidade.
Que eu seja feliz na Terra
E conquiste a paz, que encerra.
Tua doutrina de luz.
Que eu, no Infinito azulado,
Possa viver ao teu lado
Oh ! meu querido Jesus.
Arací»
Mensagem de escrita diréta
»Mae Marilia, se as mulheres
Compreendessem a Verdade,
Para seguir teu exemplo,
Da terra eu tinha saudade.
Madalena, continua
Iluminando a idéia
Fazendo o que fez a outra
Madalena da Judéia.
Emilia, ampara os doentes
Com tua mediunidade,
Afim de que o teu futuro
Seja de felicidade.
Risoleta, brevemente
— Já tenho plena certeza —
Irás substituir o »casca». (i)
O’ que grandiosa surpreza !...
O’ minha irmã Margarida,
Da «Escola Nina Arneira»,
Esclarece os teus irmãos
Nesta vida passageira.
O Professor, (2) aí presente,
Estimule a mocidade
A’ conquista, nesta vida,
Da santa Luz da Verdade.
O fotógrafo (3) que aí está
P’ra tirar fotografia . . .
A minha, vou vender caro
A bem do Lar de Maria !
E essas nossas irmazinhas
Merecem versos também,
Porque a todos o Zé Grosso
Lhes deseja muito bem.
Laís — cantora do Grupo,
Que anima a nossa reunião...
Que Fidelinho ilumine
Seu bondoso coração.
Lenice, peço a «vancê»
Que incentive, com bondade,
P’ra que «vancês» representem
Em nossa Mocidade.
Amadeu, é necessário,
Para se ser de Jesus,
Perdoar os inimigos
Dando os exemplos de luz.
Ferreira, «vancê» precisa,
Com carinho e amizade,
Cultivar em Macaé
Aquela fraternidade.
Rodrigo, para «vancê».
Por ser meu amigo velho,
Seja mais interesseiro
Pelas coisas do Evangelho.
Inácio, «vancê» receba
O meu pobre coração ;
Precisas sair da dúvida
Para sua salvação.
facques, te chamam chorão !
E a expressão do sentimento ;
Dos tempos desperdiçados
Tu tens arrependimento.
Por José Grosso, homenageando
os visitantes e os componentes do
«André Luiz» :
241 —
c
Revista Internacional do Espiritismo
- 242 -
Lu/u, vens de Juiz de Fóra
Trabalhar pela Verdade!
Age e vê se tu consegues
Semear luz, fraternidade.
Magaldi, «vancê» veio 'ver
Sua filhinha querida
Mas a emoção não deixou
Ver a vida da sua vida !
O «casca» hoje completa
Um ano mais seu de idade !
Abracem- no, vós, por mim,
Com muita fraternidade.
Ilza, Scheila lhe ofertou,
Pedindo p’ra não ter medo,
Uma quadrinha bonita
Na Fazenda do Rochedo.
Dulcinha , teu «albo» tem,
De nossa Arací, uma prece !
Orando pede a assistência
Que o teu espírito carece.
Para a esposa do Lulu :
Lute com teu companheiro,
Semeando fraternidade,
Esse sonho hospitaleiro ! . . .»
Rio de Janeiro, i.° de Fevereiro de 1947.
AMADEU SANTOS.
à Vidas Sucessivas Í4
doutrina das vidas sucessi¬
vas, que o Espiritismo incor¬
porou aos princípios de sua
filosofia, era ensinada na an¬
tiguidade pelos filósofos e grandes
instrutores da humanidade e consti¬
tuía um dos pontos fundamentais des¬
sas antigas filosofias religiosas, que
eram prègadas ao povo, óra esotéri¬
ca, óra exotericame.nte, de sorte que
não se póde insinuar que seja uma
doutrina fundada pelo Espiritismo.
E’ velha, muito velha e os mais
antigos iniciados conheciam-na e prè-
gavam na, mais ou menos desenvol-
vidamente, de acordo com a época e
o progresso das inteligências.
No «Bagavad-Gita», o Evange¬
lho da índia, Khrishna assim se ex¬
prime, prègando eloquênie e indisfar-
çavelmente a doutrina reincarnacio-
nista : «Eu e vós tivemos vários nas-
cimentos. Os meus só são conheci¬
dos por mim ; mas, vós não conhe¬
ceis os vossos. Conquanto eu não se¬
ja mais, por minha natureza, sujeito a
nascer e a morrer, contudo, todas as
vezes que a virtude declina no mun¬
do e que o vilão e a injustiça exor¬
bitam, então, eu me torno vLível e,
assim, me mostro de éra em éra pa¬
ra a salvação do justo, o castigo do
mau e o restabelecimento da verda¬
de. — Tudo o que nos sucede nêste
mundo é a consequência dos atos
anteriores. Somos o que pensamos,
e os atos da presente existência ama¬
durecem numa vida futura».
São êsses os antigos ensinos de
Khrishna a propósito das vidas suces¬
sivas e constantes do «Bagavad-Gita».
De «Trimegisto» chega até nós
esta interèssante revelação que nos
patenteia a face evolucionista da fi¬
losofia palingenésica : «A pedra se
converte em planta, a planta em ani¬
mal, o animal em homem, o homem
em espírito, o espírito em Deus». Pro¬
fundo e verdadeiro, êsse conceito da
vida imortal ainda se mantém de pé.
Os velhos brahmanes e budhis-
tas ainda conservam êste ensinamen¬
to induísta, que vem atravessando ge¬
rações sôbre gerações : «A alma dor¬
me na pedra, vive na planta, move-
se no animal e desperta no homem».
E’ o princípio inteligente, é o demen¬
te imortal, independente da matéria,
que, animando essas formas materiais,
vai ascendendo sempre para planos
cada vez mais elevados. Êsses dois
importantes ensinamentos da filosofia
induísta representam, sem dúvida, a
mais profunda e generalizada concep¬
ção que se póde ter da doutrina pa¬
lingenésica.
Com efeito, porque aceitar, co¬
mo dogma, o princípio de que só o
Revista Internacional do Espiritismo
243
homem tem alma ? Os demais seres
vivos seriam apenas aglomeração de
células, de elementos materiais que
morrem, destróem-se e se tornam pó !
Os antigos iniciados tinham me¬
lhor concepção da imortalidade e re¬
velam possuir mais profundos e mais
justos conhecimentos da teoria das
vidas sucessivas.
Muita razão tem certamente o
dr. Inocenzo Calderone, diretor de
«Filosofia delia Scienza», quando, alu¬
dindo à reincarnação, escreve : «E’
uma lei de evolução do Sêr que, a-
través de etapas indefinidas do seu
futuro, acaba por atingir uma cons¬
ciência pessoal e perfeita.»
Nascemos, vivemos, lutamos, so¬
fremos e morremos para renascer lo¬
go mais, em outro corpo, e fechare¬
mos, depois de sucessivos e progres¬
sivos renascimentos, o ciclo evolutivo
dos nossos destinos imortais.
D j alma Farias .
9- Livros 2 Autores -
- LEOPOLDO MACHADO -
SÍNTESE DE O NOVO TESTAMEN-
TO — Mimmus, Rio de Janeiro.
Jesus afirmou que o fim só viria,
quando seu Evangelho fosse pregado por
todo o mundo, em testemunho de todas
as nações.
Certo que não se trata de uma afir¬
mativa vã, por ser do Cristo, que advir-
tiu, peremptório, passaria o Céu e a Ter¬
ra, menos suas palavras.
A pregação do Evangelho a todos
os povos é que marcará o fim.
Exigência pequenina, na verdade.
Poderia exigir mais o Senhor : o cumpri¬
mento em atos e exemplos de seu Evan¬
gelho. E’ bem mais fácil estudá-lo e pre¬
gá-lo, do que sentí-lo e praticá-lo.
Afigura- se-nos, a partir da afirmati¬
va do Cristo, que estamos tão longe do
fim ! O Evangelho está muito longe de
ser pregado a Jtodas as nações. Pois, se
nem as religiões que se dizem nêle assen¬
tes o pregam ! O Catolicismo serve-se
mais de encíclicas e pastorais, deixando-o
em plano secundário. Secundarissimo !
Prega-o muito ao pé da letra o Protestan¬
tismo, através de suas milhares de seita-
zinhas. Nem assim, ainda o prega o Es¬
piritismo, que não saiu, ainda, nos países
estrangeiros, de sua fase experimental, fe-
nomenológica, metapsíquica. Se Allan
Kardec ainda não é estudado e conheci¬
do em meios espíritas estrangeiros, como
nos Estados Unidos e na Inglaterra ! . .
Só no Brasil é que se vai fazendo,
póde-se dizer, espiritismo ajustado ás li¬
ções do Evangelho; é que se vai estu¬
dando o Evangelho à luz do Espiritismo.
Assim mesmo, o Evangelho Segundo o
Espiritismo, que é, apenas, a súmula de
uma parte só do Evangelho do Cristo,
em que o Codificador descobre cinco as¬
pectos distintíssimos. Estudado, mesmo
assim, por todos os espíritas? O Censo
último revelou 468.000 espíritas no Brasil.
Nêste cômputo, estão, naturalmente, os
redentoristaSy para os quais Allan Kardec
faz obsidiados, e os umbandistas, que na¬
da leem. Umbandistas e redentoristas em
número maior, naturalmente, do que kar-
decistas. Sabe, geralmente, mais a dou¬
trina que não dá trabalho ao cérebro e
não nos impõe o trabalho de nossa refor¬
ma espiritual e moral . . .
Poucos, portanto, os espíritas que
estudam o Evangelho do Cristo. E todos
os espíritas deveriam fazê-lo em suas reu¬
niões, sistematicamente, uns 10 a 15 mi¬
nutos no mínimo, a exemplo de um cen¬
tro de nosso conhecimento.
Todo esforço, portanto, que se fizer
para a maior difusão do Evangelho do
Cristo, à luz do Espiritismo, é tarefa san¬
ta, oportunissima.
Mormente, se fôr esfôrço de molde
a transmitir os ensinamentos evangélicos
em doses mínimas, homoepáticas, que pe¬
netram, melhormente, o entendimento, que,
melhormente, descem ao coração.
SÍNTESE DE O NOVO TESTA¬
MENTO, de Minimus é um esfôrço as¬
sim.
3 rata-se de um resumo oportunissi-
mo dos factos e das lições referentes ao
Rabi da Galiléia. Pena é que o autor não
- 244
Revista Internacional do Espiritismo
lhe tenha emprestado coordenação crono¬
lógica de factos e ensinamentos. Teria,
assim, mais realce, pois tomaria uma fei¬
ção biográfica interessantíssima.
A preocupação do autor, dí lo na
introdução, é resumir as passagens e os
ensinos do Mestre em estudos compreensí¬
veis. Nós teriamos dito, em vez de com¬
preensíveis, coordenados , sintéticos, que
compreensíveis eles o são, de qualquer
maneira, para os que já têm olhos de ver
e inteligência de compreender. Estamos,
ademais, com J. Stuart, a afirmar que «o
Espiritismo é a chave para compreender¬
mos muitas passagens do Evangelho». Se¬
riam, para tanto, necessárias muitas no¬
tas à margem, esclarecedoras. E’ certo
que o autor põe, no rodapé de algumas
paginas, notas esclarecedoras, chamando
a atenção para interpretações que o Es¬
piritismo dá a muitas passagens, diferen¬
tes da interpretação protestante e católica
Notas, porém, muito resumidas, nos mol¬
des da obra. E todas aceitáveis. Menos
uma, que não abonamos. A da pag. 148
a propósiro desta passagem de Mateus
(19-28). Em verdade vos digo : vós, que
me seguistes, quando na Regeneração o
Filho do homem se assentar no trono de
sua glória, sentar vos-ei, etc...» A nota
põe Reincarnação em lugar de Regenera¬
ção. Nós preferimos o termo Ressurreição ,
no sentido da volta do Espírito à Vida
Espiritual, ressurgido, portanto, para a
verdadeira Vida. Reincarnação, de resto,
supõe existência em mundos-escolas, em
planetas como o nosso, de provas, expia¬
ção e aprendizado. . E o Cristo dá a en¬
tender, exatamente, louros e glórias aos
espíritos que souberam vencer suas rein¬
carnações airosamente . . .
Um índice alfabético bem posto e tá¬
buas de capítulos e versículos de cada
evangelho, á abertura do volume, facili¬
tam de rr.uito o manuseio da obra.
SÍNTESE DE O NOVO TESTA¬
MENTO é leitura aconselhável, de prefe¬
rência, á juventude espirita. Um volume
que deve ser estudado nas reuniões ordi¬
nárias das Juventudes Espíritas Organiza¬
das ', ás quais, aqui o recomendamos en-
carecidamente.
O livro é edição da Federação Es¬
pirita Brasileira
Agradecemos o volume que nos
coube, oferta de seu autor.
Só não agradecemos os termos ce
rimoniosos da dedicatória Espíritas que
somos, acostumados a tratamentos frater¬
nos, reveladores da cordialidade cristã,
feita a prezado irmão espiritual e quejan¬
dos, claro que não podemos agradecer o
o Exmo. Sr. postos em dedicatórias . .
Se somos irmãos espirituais em Je¬
sus, é óbvio que deve existir entre nós a
cordialidade e confiança próprias de es¬
píritos que já se compreenderam, que vi¬
bram pelo mesmo ideal.
CONFRATERNIZANDO, Semana
Espíiita de Fiorianopolis— Vários autores.
As Semanas Espíritas , como movi¬
mentos de aproximação em nome do Cris-
to e por amor à Doutrina, e maior difu¬
são do Espiritismo, é postulado dos mais
caros de nossa Cruzada do Espiritismo de
Vivos.
Vemos, portanto, com muita simpa¬
tia e maior interêsse, as que se realizam
por aí além. Principalmente, as que se
realizam dentro de programas afins com
o nosso movimento, visionando colimat
os mesmos objetivos.
Foi este, o caso da Semana Espírita
de Fiorianopolis, reali/.ada em {946.
Não pudemos, mau grado nosso,
tomar parte nela, diante do convite, gen¬
til e insistente, que recebemos para tanto,
E’co brilhante da Semana Espírita de
Fiorianopolis, é o opúsculo, CONFRA¬
TERNIZANDO, que acabamos de rece¬
ber. Bem apresentado graficamente ; bôa
literatura e melhor doutrina ; duplo esfor¬
ço apreciável, porque para confraternizar
e conseguir recursos para a Caixa de Pro¬
paganda da União Espínta Discípulo de
Jesus, por tudo isso, trata-se de uma pu¬
blicação merecedora da melhor atençã^,
de cuidadosa leitura.
São 90 páginas de 23/16, com 24
peças assinadas por vários nomes : os ir¬
mãos ilustres que ocuparam a tribuna dos
centros espíritas, durante a Semana. Pe¬
ças da autoria de Pedro Lima Breunsisen,
Jobel Sampaio Cardoso, Osvaldo Melo Fi¬
lho, Asbelina Dias Mourão, Ligia Brazi-
nha, Osvaldo Melo, Maria Cândido Rau-
lino, Aido João Nunes, João Alfredo Gon¬
çalves, Arnaldo S. Tiago, Marina Gon¬
çalves, Osvaldo Calixto de Lima, Gilber¬
to Doin Vieira, Maria Novais, e outros.
Agradecendo o volume que nos cou¬
be, aos organizadores da Semana, agra¬
decemos, também, a Arí Melo, ás refe¬
rências ao nosso nome, à nossa atuação
a pról das Juventudes Espíritas.
Revista Internacional do Espiritismo
— 245 —
Crônica Estrangeira
Senti estar morrendo
«Constância»
«Em 1915, quando a guerra mundial
estava furiosamente desencadeada e as
epidemias aumentavam, adoeci de pneu¬
monia e tifo. Com muita febre, fui trans¬
portado para o hospital militar de Pilseu
(eu servia no regimento da região). Acen¬
tuo de antemão que a febre — ainda que
elevada — não infiuia negativamente sôbre
a faculdade de meu cérebro e que, o que
aconteceu mais tarde, sucedeu com mi¬
nha plena consciência e com perfeita fun¬
ção cerebral. Por isso eu mesmo não
acreditava estar gravemente enfêrmo. Mas
quando tratei de escrever a meus pais,
apenas narrar o que sucedeu, onde e co¬
mo estava, vi, com surpresa, que nãô pu¬
de escrever uma só letra, traçando mi¬
nha mão sómente uma linha torcida.
Verifiquei, em razão dessa experiên¬
cia, a gravidade de minha situação.
Uma noite fui inspirado (talvez por
meu protetor) que dentro de dois dias,
precisamente ás doze e meia da noite, eu
morreria. De modo algum me senti afhto
por isso, pelo contrário, feliz esperava ês-
sa ocasião e, tanto mais, quanto mais
se aproximava êsse momento. Simultânea¬
mente sentia estranha liberação. Ao acon¬
tecer isto, eu estava completamente cons¬
ciente. Sabia que hora era, tanto de dia
como de noite, ainda que não tivesse re¬
lógio.
Na noite seguinte me senti livre a
tal ponto de poder sentar-me. Isto antes
eu não era capaz de o fazer. Ocorreu me
olhar para trás, para a cama. E fui to¬
mado de surprêsa, pois na cama estava
deitado meu corpo, enquanto que eu es¬
tava sentado. Minhas pernas estavam li¬
gadas ao corpo, em seguida também elas
se libertaram lentamente até os pés. Ale¬
gre aguardava o toque das doze e meia
da noite. Com minha vontade procurava
acelerar minha morte, mas em vão. Afli¬
gia-me por não poder desencarnar por
completo até o momento determinado e
que não chegaria a tempo.
Quasi violentamente tentava libertar
minhas pernas, especialmente quando
constatei só me faltarem uns minutos pa¬
ra a hora fixada e que a tíbia ainda es¬
tava ligada aos tornozêlos. Então verifi¬
quei que eram as doze e meia. Eu sabia
que a partir dêsse instante começaria a
reencarnar. Facto que profundamente me
afligia. Fui atraído de volta sôbre a ca¬
ma e, a partir dêsse momento, começou
a realizar-se lentamente a reencarnação.
Dois dias estive atormentado pelo
fracasso da morte (durante todo o tempo
da reencarnação) e, logo após sua termi¬
nação, fiquei satisfeito por continuar a
viver.
Interessante e instrutiva é também
a circunstância de, durante a «morte»,
não ter pensado em meus pais nem em
meus irmãozinhos aos quais muito amava.
Desde essa ocorrência, cada vez que
verifico o rápido correr dos anos e o a-
proximar-se do momento da partida, não
sinto mêdo nem tristeza.»
A «Psychicha Revue» comenta o
caso do seguinte modo ;
«Um pesquisador das cousas es¬
pirituais sabe que não se tratava de
morte verdadeira, como acreditava o
paciente, mas sim de liberação parcial
do corpo fluídico, em estado conscien¬
te. Casos semelhantes sucedem a algu¬
mas pessoas em períodos de exgota-
mento por enfermidade ou outras causas.
O morrer e o liberar do corpo es¬
piritual são estados que se parecem, até
certo grau. Ao morrer, rompe-se o- cor¬
dão, ao contrário, na liberação só se
libertam por tempo determinado.
O homem pode entrar na esfera
espiritual de outra maneira e não só
pela morte. Ao morrer, primeiro se es¬
friam e morrem os membros inferiores
e o nosso eu se eleva e sai pela cabe¬
ça. Assim descrevem os clarividentes a
morte, fundados sôbre observação pró¬
pria e afirmam que, á medida que se
vai libertando o corpo espiritual do
corpo físico, êste cessa de irradiar e se
converte em matéria inerte.
No que morre, é a cabeça que
por mais tempo irradia, e depois de te¬
rem desaparecido os últimos sentidos
corporais . . .
. . . Um investigador no campo das
- 246
Revista Internacional do Espiritismo
ciências espirituais, tampouco se sur¬
preenderia se o paciente se houvesse
liberado naquele período, trasladando-
se para alguma parte — para seus entes
queridos — espantando-os com sua apa¬
rição . .
...Interessante é igualmente a rea¬
lidade de as pessoas desdobradas consi¬
derarem vida e morte de diferente pon¬
to de vista, e não como o fazem em
estado normal.
Quando os pacientes estão desdo¬
brados e se lhes pergunta a respeito de
seus corpos, não dizem : «eu sou êste»,
mas sim «eu não sou êste», isto é, o
corpo.
Não nos surpreende o facto de
não quererem alguns voltar ao corpo,
porque em seu estado de liberação se
encontram comodamente, leves e frescos.
Tampouco é de estranhar que os
que passaram por tais experiências, não
temam a morte, como sucedeu no ca¬
so dêste relato.
E’ preciso considerar que o nasci¬
mento do sêr humano não é casual (como
pretendem os materialistas e pessoas
não iniciadas no mistério da vida do
homem) e traz consigo seu postulado,
cujo cumprimento é nosso sagrado
mandato. E logo que o havermos cum¬
prido, ser-nos-á concedido um período
de descanso, seguido de traslado ao
mundo novo e melhor.
Outro ensino nos fornece êste
facto. E’ impossível encarar a vida su¬
perficialmente, seus acontecimentos de¬
vem ser julgados com sólida considera¬
ção. A vida é, em sua base, profunda,
misteriosa e exige, de nós, conhecimen¬
to e consagração para que nos possa
revelar seu mistério.»
Nascem Diretores Precoces
na Itália
«Constância» reproduziu de «El
Mundo» de 20-7-1947.
Reservamos nossa opinião sobre os
meninos prodígios, mas o telégrafo nos
fórça a consignar sua existência na arte
musical. A última revelação dessas preco¬
ces mentalidades infantis sucedeu na Itá¬
lia. Faz já alguns mêses, assombrou os
públicos, a crítica e os mais peritos com¬
positores da península, a aparição de Pie-
rino Gamba, de 14 anos que dirigiu vá¬
rias orquestras em algumas capitais ita¬
lianas suscitando unânime entusiasmo. E
quando se começava a olvidar a persona¬
lidade do «fenômeno», a agência noticio¬
sa Reuter nos informa de outra descoberta.
O citado serviço informativo #nun-
ciou, há alguns dias, da cidade do Vati¬
cano, que o Papa Pio XII, recebera em
audiência privada, o menino de oito anos,
Ferruccio Burco, cuja fama de diretor
sinfônico se propagava pelo norte do país.
O Papa conversou animadamente com o
juvenil maestro, e lhe declarou que tam¬
bém êle é amante da música e ainda gos¬
ta, de vez em quando, executar no vio¬
lino. Terminou a entrevista presenteando
o menino com um belo rosário e pro¬
meteu fazer o possível para que dirigisse
um concêrto na sala do Vaticano. £ eis
aqui a nossa notícia da mencionada agên¬
cia, transmitida, ontem, de Roma.
A população desta capital recebeu
com aclamações, o menino prodígio Fer¬
ruccio Burco, que breve dirigirá a or¬
questra sinfônica do «Teátro da Ópera».
Esclarece ademais, que o músico precoce,
nascido em Milão, filho de aplaudida
soprano, e que já dirigiu vários concêr-
tos, não só sente inclinação pela música
clássica, mas também, como todos os me¬
ninos, gosta de doces e jogos.
Os anais do psiquismo estão abarrotados de factos comprovativos
da sobrevivência individual. A produção desses factos, dos mais varia¬
dos e interessantes modos, visa chamar a atenção dos homens para o
mais importante problema da vida : o da Imortalidade da Alma. Re¬
solvido êste problema, os homens ficam aptos a solucionar, com rela¬
tiva facilidade, os demais problemas, porque podem entender as cou¬
sas no seu verdadeiro sentido. — L. B.
Revista Internacional do Espiritismo
— 247
ESPIRITISMO NO BRASIL
] 914, pelo inesquecível batalhador
Américo F. Machado, desincarna-
do em 16 de Outubro de 1931.
E’ pessoa jurídica, com regis¬
tro em 15 de Julho de 1915. Com
fins altruísticos e cumprindo um
dos dispositivos es¬
tatuais, a diretoria
vigente fundou a Cai¬
xa de Assistência aos
Necessitados, mante¬
nedora do Asilo Es¬
pírita «Luiz Gonza¬
ga», em 17 de Se¬
tembro de 1924. A
instituição vem fun¬
cionando regularmen¬
te, dando abrigo, ca¬
ma e mesa para 22
pessoas, entre velhas,
viuvas desamparadas
e cegos. Tendo por
Séde própria do Cenlro Espírita fim o estudo teórico
«rS. Luiz Gonzaga » e experimental do Es¬
piritismo e a propa¬
ganda de seus ensi¬
namentos, vem este
Centro executando o
seu programa de tra¬
balhos internos, pre¬
sentemente assim dis-
tribuidos : aos do¬
mingos, das 15 ás 16
horas, aulas de Es¬
piritismo ás crean-
ças ; das 19 e 30 ás
20 e 30 horas, estu¬
do sobre «A Grande
Sintíse» ; ás segun¬
das-feiras, das 19 e
30 ás 20 e 30 ho¬
ras, comentário sobre
«Grandes e Pequenos
Problemas»; ás quin¬
tas-feiras, ás mesmas
Vista do palco, gêneros, roupas feitas,
cortes de vestidos, camisas calças, brin¬
quedos, doces, etc. Senhoras e senhoritas
da Diretoria, que auxiliaram a distribui¬
ção. í Natal dos Pobres de 1946).
Centro Espírita «S. Luiz
Gonzaga»
Esta Sociedade foi fundada
em Itapira, em 17 de Setembro de
o
248
Revista Internacional do Espiritismo
horas, explanação
em torno do «Li¬
vro dos Espíritos»;
ás quartas e sex¬
tas-feiras, trabalhos
práticos à noite. 0
Centro mantém u-
ma boa Biblioteca
de obras psíquicas
para os seus asso¬
ciados. Em cada
fim de mês pales¬
tra a cargo da mo¬
cidade espírita. 0
Natal de 1946 foi
muito concorrido
em dádivas, tanto
em dinheiro como
em mercadorias.
Vista parcial do Salão superlotado de pobres que
aguardavam a hora da distribuição. (Natal
dos Pobres de 1946 ltapira).
Mãe Dita
Foi por ocasião da Semana Espíri¬
ta de Cruzeiro, no Estado de S. Paulo,
em Fevereiro deste ano, que conheci Bene¬
dita Fernandes. De ha muito tempo o seu
nome chegara aos meus ouvidos, revestido
de uma auréola de respeito. Chegara mesmo
a ler uma crônica de Leopoldo Machado
sobre a estimada irmã, em crença, de A-
raçatuba, enaltecendo-lhe as peregrinas
virtudes. Sabia dirigir ela uma instituição
filantrópica, obra gigantesca erguida à cus¬
ta de sua fé, de seu devotamento à Cau¬
sa do Bem, de seu amor e de suas lágri¬
mas. Sua figura quasi exótica de preta
velha e feia, entrou-rne por inteiro na al¬
ma. Ainda me sabe bem lembrar o ósculo
que ela me dera na face ! Essa caricia sim¬
ples e natural, expressando puro afeto fra¬
terno, que me honra tanto como me hon¬
ram os puros beijos . maternos, perdura
serena e imaculada na retina do meu es¬
pírito ! Suas mãos calejadas e grosseiras,
acostumadas a acariciar as criancinhas do
orfanato que ela fundou e dirigiu, afaga¬
vam indistintamente a todos os seus ir¬
mãos. Dizia-se analfabeta e não obstante,
com palavra, para esflorar o Evangelho,
pregava com erudição e sentimento, fa¬
zendo estasiar enormes assistências. Foi a
palavra que mais me comoveu e encan¬
tou na vitoriosa reunião dedicada à mu¬
lher espírita, da referida Semana. Todo o
seleto auditório, aliás, permaneceu suspen¬
so, em estado de êxtase, enquanto a que¬
rida e saudosa irmã discorria sobre os en¬
sinos de Jesus. Sempre bem assistida e
inspirada, quando doutrinava fazia trans¬
portar o espírito dos ouvintes ás regiões
superiores da espiritualidade. Soube-se que,
em virtude do seu inexedível devotamen¬
to á causa do amparo ás crianças e aos
obsedados dos departamentos da institui¬
ção assistencial que presidia e que eram
as meninas dos seus olhos, lhe viera o
apelido de Mae T>ita!
Verdadeira mãe ela o foi, realmen¬
te, dos orfãos, dos pobres e dos doentes
de Araçatuba, tornando-se estimada e res¬
peitada em toda zona do Noroeste do
Brasil não só dos espiritistas, mas dos
adeptos de todas as religiões e até dos des¬
crentes ! A sua incultura nao lhe obstava
profligar [o êrro, a injustiça e a tirania.
Provocada pelos detratores do Espiritis¬
mo a dar o seu testemunho de fé racio¬
cinada, defendia a Doutrina que lhe era
tudo na vida, com lógica e doçura. Com
a palavra, jamais se excedia. Antes pri¬
mava pela serenidade embora, ás vezes,
enérgica, não contundindo em nenhuma
hipótese. E conquanto grave e sizuda
quando orava, muitas vezes a vi tagare-
Revista Internacional do Espiritismo
249 —
lando animadamente, transbordando em
franco bom humor, que contagiava a todos.
Benedita era bem a figura de uma
autêntica missionária, dedicando-se ao
amparo dos desventurados. Pobre, pedia
aos mais aquinhoados de fortuna, para
distribuir pelos mais necessitados. O or¬
fanato, o sanatório, a escola e demais de¬
partamentos que compõem a grande obra
de assistência social de Araçatuba, são obra
sua. Médium curador, aliviou muitos so¬
frimentos e curou muitas enfermidades.
Hoje, ela já pertence ao plano da vida
espiritual. Sua desincarnação recente, foi
no-la participada pelo querido confrade
Vicente S. Neto que, como eu, se fizera
um admirador das virtudes da querida
irmã. Essa noticia emocionou-me bastante,
pois que pretendia atender-lhe ao convi¬
te amável de visitar, oportunamente, a
sua obra de Araçatuba. A maior emoção,
entretanto, estava-me reservada para a
noite de ontem, no «Culto Doméstico de
Scheila», no lar do casal de confrades Pau¬
lo -Maria Ieneè, quando Mãe Dita brin¬
dava os assistentes com uma mensagem
psicográfica que identifica, perfeitamente
a comunicante, pela sua lucidez e pela
elevação de suas palavras carinhosas. Sua
mensagem fez- me chorar de alegria, de
comoção e saudade . . . Benedita Fernan¬
des está viva na espiritualidade, como vi¬
va permanece na memória e no coração
agradecido dos seus beneficiados, dos seus
confrades, dos seus amigos e admiradores.
Mãe Dita continua a velar pelos seus ir¬
mãos enfêrmos e necessitados da Terra.
Mãe Dita ! que o teu espírito con¬
tinue, sereno e feliz, a irradiar luz por
sobre todos. Até breve. Mãe Dita ! . . .
oAmadeu Santos.
Rio, 14/10/1947.
Lourenço Bianchi
O nosso representante sr. Lourenço
Bianchi, nos comunicou que passou a an¬
gariar donativos para o Abrigo «Pinhei¬
ro Machado», de Novo Horizonte, insti¬
tuição esta que abriga elevado número de
menores e velhos desamparados.
O confrade Lourenço Bianchi, que
deverá percorrer a zona douradense e
parte da Paulista nova, como nosso re¬
presentante, está autorizado a reformar e
angariar assinaturas para «O Clarim» e
«Revista Internacional do Espiritismo».
Solicitamos aos prezados confrades
boa acolhida para êste trabalhador da
seára, afim de que êle possa encontrar fa¬
cilidade no desempenho da sua tarefa.
Notícias de São Paulo
Homenagem a Allan Kardec
Realizou-se no dia 4 de Outubro
último, no Salão Nobre do Círculo Eso¬
térico da Comunhão do Pensamento, uma
Grande Concentração da Mocidade Espí¬
rita, rendendo justa homenagem ao Codi¬
ficador da 3-a Revelação.
Êsse festival teve ainda, o objetivo
de reunir os jovens espíritas, em torno
dos postulados do Cristo, em espírito e
verdade.
O orador da noite, Dr. Jonathas O.
Fernandes, Juiz de Direito da j.a vara civil,
aposentado ha dias, fez uma belissima
dissertação sobre a figura do homenagea¬
do e, no final de seu sintético «capo la-
voro», recebeu da avultada assistência, u-
ma salva de palmas que, também, lhe
foram tributadas quando assumiu a tri¬
buna.
Antes e depois da conferência, uma
autêntica parada de jovens artistas, deli¬
ciaram os assistentes com um programa
maravilhoso de música fina e declama-
ções.
Nancy Pulhmann, Julinha Thékla,
Franz G. Simon, Alice Campos Melo, Hil¬
da Siqueira, Theodomiro R. Cunha (Ne¬
né), Alda Bertolini, Celia J. Pitt e a no¬
tável jovem soprano Ariel Sampaio, sob
o comando de Vicente S. Neto «crooner»,
foram aplaudidos delirantemente, fazendo
jús ás palmas recebidas, graças aos seus
números de arte, bisados constantemente.
A presidência dos trabalhos esteve
a cargo do jornalista Paulo Alves de Go¬
dói, e sob a supervisão de Antonio Soa¬
res de Carvalho e snrta. Zenóbia Prado.
No início da reunião, à meia luz,
foi prestada significativa apoteose a Jesus,
sendo descido do palco, uma imagem da
«Meditação de Jesus no Horto», com fo¬
cos luminosos.
A prece inicial foi proferida pelo
Dr. Julio de Abreu, representante da U-
nião Social Espírita, sendo executado nês-
se momento, a «Ave Maria» de Gonoud,
- 250
Revista Internacional do Espiritismo
em violoncelo e piano, por Franz Simon
e Alice Campos Melo.
Um quadro de. Kardec, todo orna¬
mentado, brilhava «à saciedade», e, ao
encerrar-se a noitada, a alegria dominava
todos os corações. Aí ficam gravados os
acontecimentos mais relevantes da Gran¬
de Homenagem a Kardec.
Vicente S. Ifeto.
União Social Espírita
Com o relatório que abaixo transcre¬
vemos, queremos apresentar aos espíritas
do Estado de São Paulo uma síntese do
movimento da U. S. E. Analisando os re¬
sultados já obtidos, os confrades poderão
avaliar os esforços que temos empregado
e as lutas que teremos de enfrentar para
que a unificação seja coroada de êxitos.
Entidades adesas até o Congresso
Capital, 170 ; Interior, 361 ; Total, 531 ;
Entidades adesas atualmente
Capital, 215 ; Interior, 403 ; Total, 618.
Entidades Recenceadas
Capital, 108 ; Interior, 278 ; Total, 385.
Total de Espíritas recenseados até o mo¬
mento 60.000; Uniões Municipais forma¬
das, 16 ; Nomes indicados para delegados
distritais 33; Nomes indicados para Mem¬
bros Regionais do Conselho, 203.
Entidades que efetuaram pagamentos
Capital, 19 ; Interior, 42 ; Total, 61.
Mediantè a exposição feita, do mo¬
vimento até o presente momento, a U.
S. E. solicita de todos os confrades do
Estado, o seu decisivo apoio para que a
unificação da família espírita seja concluí¬
da em bases sólidas e em um futuro bem
próximo. Este movimento, como é sabi¬
do por todos os confrades, é um traba¬
lho coletivo, onde todos teem o dever de
zelar por uma parte a fim de que a obra
seja um legitimo patrimônio dos espíritas.
Uniões Municipais já formadas
As Uniões Municipais já formadas
são as seguintes : — Bauru, Jacareí, Soro¬
caba, Itapira, Porto Feliz, S. José dos
Campos, Marilia, Ribeirão Preto, Catan-
duva, São Roque, Jaú, Taubaté, Tupan,
Mogi das Cruzes, Ourinhos e Pindamo-
nhangaba.
A U. S. E. pede aos confrades que
instalaram as Uniões Municipais em suas
cidades, que nos auxiliem com sua valio¬
sa colaboração visitando as cidades visi-
nhas e incentivando os centros a forma¬
rem o mais depressa possível as uniões
que deverão tomar a incumbência de
orientar e metodisar a prática da doutri¬
na nos recantos mais afastados do Estado.
«Constância»
Comemorando o primeiro centená¬
rio do nascimento de Cosme Marino, o
Kardec Argentino, a nossa brilhante co¬
lega, «Constância», que se publica em
Buenos Aires, dedicou a sua edição de
Outubro último a êsse ilustre pioneiro
do Espiritismo na Argentina, circulando
com mais de 140 páginas, enriquecidas
com artigos dos espíritas de mais evidên¬
cia no Continente Americano.
A’s justas homenagens que «Cons¬
tância» rendeu ao iluminado espírito de
Cosme Marino, juntamos as nossas, num
culto de grande estima e consideração.
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